entre histórias #spfwN59: ALUF
daquelas que te faz suspirar, a marca une moda, arte e sustentabilidade.
Carta da editora:
Marcada para acontecer entre os dias 06 e 11 de abril, a SPPFW irá apresentar 17 marcas brasileiras e você, por mais que talvez conheça seus nomes, conhece suas histórias?
A proposta da Entrelinhas é dar luz à moda em toda a sua complexidade, evidenciando inclusive histórias que merecem ser contadas.
Então preparem-se para uma maratona de conteúdos sobre as histórias das marcas que estarão nas passarelas da próxima edição da maior semana da moda da América Latina ⭐️
Vamos ao texto!
A moda tem o poder de contar histórias e provocar reflexões. Algumas marcas - essas são as minhas favoritas - levam esse conceito ainda mais longe, explorando a moda como expressão, arte vestível e ferramenta de transformação social. Esse é o caso da ALUF, marca brasileira que vem conquistando espaço no mercado nacional e internacional com sua abordagem inovadora.
Fundada em 2018 por Ana Luisa Fernandes, paraense de 29 anos criada no Rio de Janeiro, e seu sócio Bruno Cardozo, a ALUF nasceu da inquietação de Ana durante seu trabalho de conclusão de curso em design de moda, em 2017, que batizou de TELA. Sua orientação criativa partiu da arteterapia, uma metodologia que une psicologia e arte, inspirada na psiquiatra Nise da Silveira, uma mulher brasileira forte e a frente do seu tempo. Para a fundadora, a moda deveria ser um espaço para autoexpressão e não apenas um mercado de consumo - e eu não poderia concordar mais.
Hoje oferecem desde bolsas e sapatos e acessórios, até o vestuário no geral, incluindo beachwear. Pode parecer muito, mas tem um motivo: a estilista acredita no objeto vestível, em uma imagem de corpo como um todo. Ou seja, não faz sentido se limitar só com blusas e calças. Toda a linguagem do corpo, tudo que dá para aglutinar nessa imagem, é algo em que ela sempre pensa criativamente.
A designer também dá aula sobre criação de coleção, unindo academia e mercado — uma influência direta das mulheres de sua família, que são pedagogas.
A consolidação no mercado e o reconhecimento internacional
Desde sua criação, a ALUF vem se consolidando como uma marca que vai além do vestuário. Sua proposta é unir a sustentabilidade à experimentação artística, trabalhando com matérias-primas nacionais e técnicas que minimizam o impacto ambiental. Esse compromisso a levou a conquistar prêmios internacionais, como o Golden Shell Award (China, 2018), em que representou a FAAP e o I’m Brazil Fashion Talent (EUA, 2019), oferecido pelo Brazil Fashion Forum, evento recorrente em Miami sobre a moda brasileira.
Em 2022, a ALUF foi reconhecida pela revista internacional L'Officiel como uma das 16 marcas - e a única brasileira - ao redor do mundo a serem observadas de perto. Esse reconhecimento veio após a abertura de sua loja conceito na Rua da Consolação, em São Paulo, um espaço que busca ser um refúgio urbano e um ponto de encontro para moda e arte.





Expansão e a presença na SPFW
A ALUF estreou na São Paulo Fashion Week em 2018 pelo Projeto Estufa, plataforma que era voltada para talentos emergentes. Desde então, a marca já realizou mais de 10 desfiles (presenciais e online). O sucesso da marca levou à abertura de lojas físicas em pontos estratégicos de São Paulo, como os shoppings JK Iguatemi e Iguatemi Alphaville (atualmente fechada), além da expansão para 29 pontos de atacado no Brasil.
Recentemente, a ALUF foi convidada pela multimarca The Place para representar a moda brasileira na Semana de Moda de Paris, marcando sua primeira incursão internacional.




Sustentabilidade e inovação
Como mais um fator de diferenciação, a ALUF trabalha com 99,9% de matérias-primas nacionais e fibras naturais, focando em tecidos que sejam naturais, reciclados ou biodegradáveis.
A marca também possui um contrato com os nossos fornecedores de que os resíduos de tecidos voltem para a marca. De lá são levados para negócios sociais que transformam esses retalhos em outros produtos e geram dinheiro para essas pessoas. A marca trabalha para criar um processo cíclico fechado e possuem o objetivo, a longo prazo, de reciclar 100% das sobras de matéria-prima e resíduos. Além disso, a marca promove pelo menos um projeto social ou cultural por ano.
Ana Luisa acredita que seu maior aprendizado foi encontrar um equilíbrio entre a utopia e a realidade. “A ALUF nasceu com muitas ideologias, e entender como aplicá-las dentro de um mercado competitivo foi essencial. Seguimos crescendo com os pés no chão e a cabeça nas nuvens”, conta a estilista em uma entrevista para a L’Officiel - inclusive essa entrevista está muito boa! Li e saí ainda mais apaixonada pela marca.


[Nota de rodapé]
Uma das coisas que eu mais gosto sobre a designer é que ela reconhece fielmente a grande complexidade e paradoxo da moda, a dificuldade de ter um olhar artístico e comercial, assumindo que também questiona a área, além de manter-se fiel ao que acredita.
Em entrevista para a Bazaar ela conta que a moda continua sendo sua terapia, ainda que a questione. E diz: “acho fácil que a arte se perca dentro do sistema de varejo. Policio-me para não ser engolida por esse processo e tento preservar o espaço criativo que ainda me cura.”
Para a L’Officiel, ela fala: “Para mim, é muito importante entender o processo criativo, entender o tema, me aprofundar nisso, fazer novas pesquisas. A pesquisa traz essa renovação desse exercício. Tenho muito essa fixação, pois é por isso que a Aluf existe, por conta desse processo criativo como arteterapia. A partir do momento que isso não está acontecendo, deixa de fazer sentido. Temos uma linha muito coerente de contar histórias, pois existe de fato um caminho por trás. Não é só mais uma blusinha verde ou sei lá o quê. Óbvio que existe um mix de produtos, mas há toda a história da coleção para dar o embasamento a ela”.
Pensando no lado experimental, a marca possui a linha Ateliê, da qual existe só uma peça de cada e a pessoa pode encomendar. A linha foi criada para manter viva também a Aluf como desejo criativo, com peças feitas de palha de seda, por exemplo; coisas que, comercialmente, não seria viável fazer.
O impacto da ALUF e o futuro
Com uma abordagem única que mescla moda, arte e psicologia, a ALUF se tornou uma das marcas mais promissoras do Brasil. O impacto emocional de suas coleções é um dos maiores triunfos de Ana Luisa, que recebe relatos de clientes contando como suas peças ajudaram em momentos importantes de suas vidas, como processos de autodescoberta.
A marca segue crescendo, levando a moda como um meio de expressão e não apenas como uma indústria de consumo. Com um pé no passado e outro no futuro, a ALUF continua sua jornada para se consolidar como referência dentro e fora do Brasil.
“Empreender é um caminho de construção e resiliência, principalmente na moda nacional e quando se cria algo autoral. Me tornei empreendedora para criar a moda que eu acreditava, sonhava e queria que se desenvolvesse em meu país. Empreendi por saber sonhar e acreditar no meu sonho, no meu ideal.”
- Ana Luisa em seu texto para comemorar posição no Forber Under 30.




Aprendizados, curiosidades & dicas
Em 2022 a ALUF lançou 6 episódios em seu podcast que contemplam assuntos como gestão de marca, comunicação de moda e arteterapia!
Uma coisa que a designer contou nas suas entrevistas me pegou bastante por aqui, sobre a importância de confiar no próprio feeling e seguir sua verdade, especialmente em um mercado tão competitivo: “Muitas vezes, me cobrei para seguir o tempo e o ritmo dos outros, mas agora vejo que seguir meu próprio caminho é o que faz sentido para mim e para a marca. Acredito que isso, no fim, é o que nos trouxe até aqui.”
E algo que amei saber! Ela já realizou uma exposição com a artista plástica Gabriella Garcia, quando as duas estavam começando: “Entreguei a ela uma tela, um quadro mesmo, e uma roupa, um vestido feito de tela. E ela teve o mesmo processo criativo nas duas bases. A exposição te levava a questionar: por que o quadro era mais importante do que o vestido? Por ser uma roupa e ter uma função? Mas se o processo criativo foi o mesmo, a matéria que a artista usou foi a mesma, por que o vestido é ‘menos’ que o quadro? Em que ponto um se põe acima do outro? Isso sempre me incomodou. São esses embasamentos que a Aluf tem para se justificar, da relevância do fazer de moda, é do questionamento que nós surgimos. O processo criativo é que nos faz termos essa relevância enquanto criadores. O desafio é crescer mantendo isso.”
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Esse é o primeiro post dos 17 (força!) que irão aparecer por aqui para que nessa edição da SPFW, você conheça realmente as marcas que estão passando pelas passarelas.
Até amanhã :)